Dorme

Fique com sono, então.
Dorme agora, que o sono que vem leve, embala o fechar dos seus olhos;

E a batida leve do seu peito embala o soar do meu canto meloso, faz aos poucos eu olhar pra você.
Dorme sem medo, que enquanto dorme eu tomo conta;

Vejo seu corpo, tomo seu fôlego, cubro seu dorso.
Mas fica em paz criatura,

Não precisa ter vergonha;
Meu olhar não te morde... Até quer, mas não pode... Porque eu digo que é cedo demais.
E não se preocupe se acaso sonhar que não estamos no mesmo lugar.
Tô sempre aí, não me sente?
Estou rente, sempre colado, sempre vidrado;

Estou amarrado a você.
Só meu corpo se afasta!
Não sente a presença de minh'alma?
É ela que vibra você, respira você e adormece em você todas as noites;
Minh'alma espera o cantar dos pássaros pra poder te dar um beijo de bom dia e voltar pra junto de mim;

Ela faz isso pra trazer em si o cheiro do perfume cor de vinho, o brilho dos olhos que tem carinho, as delícias das curvas de sua orelha no travesseiro.
É de um gosto bem exótico minh'alma.
Essa alma viaja sem contar quantos caminhos andou.
E se contasse seria uma contagem louca; Pouco breve, pouco longa, com vontade de partir mais cedo pra poder voltar mais tarde e sorrir mais gostoso ao te ver.
Sabes que essa saudade é doce?
É como fruta muito madura, daquelas que tem gosto melhor nos seus últimos dias, pouco antes de murchar.
É só saber lidar com seus impulsos e ter sorte.
Essa saudade morre todas as noites, pouco antes do virar das horas, do cantar da aurora.
Essa saudade tem nome forte, pulso forte, gênio forte... E forte também resiste ao tempo em que não pode ir te ver.
Essa saudade tem ingredientes da loucura; Tem um pouco de proibido, uma xícara de afeto, um dedinho de instinto.
Essa saudade, na verdade, é muito de cada coisa.
Muito de poemas, muito de doçura, muito de ironia e muito de vontade constante, incessante.
Mas deixa de lado isso agora, fecha a cortina, deixa a mente ir embora...

Deite nos braços, que os braços da alma te servem de cama.
Fique com sono, então.

Te faço um chamego, me faço de aconchego.

Deixe que meus beijos, aos poucos, fechem seus olhos...

E meus olhos se abrem para poder te ver dormir;

A cada noite;

Todas as noites.

Dorme...

Matheus