17 de abr. de 2010

6 anos sem você




Hoje acordei sentindo o aroma do afeto... E ainda de olhos fechados me lembrei da dor de seis anos atrás.
De frente à minha cama estava o calendário, que sem pena me provava o que eu não gostaria de lembrar... 17 de Abril de 2010; Seis anos sem você.
Seu cheiro, seu toque, suas palavras. Tudo isso faz falta pra mim.
Cada dia vazio remete a uma lembrança mais e mais bonita... Mas mesmo bonitas, as lembranças são só lembranças.
Abri a porta de casa, e à caminho do trabalho ouvi "Cuitelinho", na voz de Nara Leão. Lembra quando cantava esta música comigo? Era tema de uma novela, acho... Mas é tão simples, e ao mesmo tempo tão bonita.
E pedalando pela avenida, ouvi Nara cantar "a sua saudade corta feito aço de navalha...”
É verdade vó... Corta mesmo, e corta fundo.
São tantos sentimentos diferentes; é uma turbulência de expectativas que foram abortadas no dia em que você partiu.
Eu bem sei que não há volta da morte, e nem quero que volte pois sei que está num lugar bem melhor do que nós... Mas eu sou tão egoísta a ponto de ainda sonhar em ter você do meu lado, só pra mim.
Sabe aqueles dias que chorei sozinho? Que sofri amarguras nos cantos da casa, em meio à suas fotos, em meio à suas memórias? Eu sei que você estava por perto... eu sei.
Aqueles dias em que minha família se virou contra mim, me deixou de lado... Lembra, vó? Senti tanto a sua ausência naquela época... Parecia que ardia no meu peito não estar com você.
Você me entenderia...
Seus cabelos brancos, sua pele clara, seu cheiro de vó!
Ah, vó! Que saudades!
Me lembro bem, era domingo de páscoa de 2004. Você saiu pela porta, e já sabia que por ali nunca mais voltaria... Mas antes disso me disse "Te amo, meu filho", e isso eu levo comigo pro resto da vida. E pro resto da vida vou levar também a sensação do toque do telefone às onze da noite, uma semana depois da última vez que vi seus olhos tão azuis, seguido da notícia que ninguém queria ouvir; "Matheus, sua avó faleceu".
Ô Dona Dorcas, pra que isso? Doeu tanto... Dói tanto...
O seu nome ficará para sempre gravado em meu corpo... Literalmente. E sempre que ouço Maysa cantar "Ne me quitte pas", me lembro de você partindo... "Não me abandone, não me abandone".
De tudo, me restam, sem dúvidas, apenas lembranças felizes!
Sua presença preenchia, seu amor acolhia, suas palavras eram afeto puro! Era a matriarca ideal!
Você já sabe, e é triste falar disso, mas a família se distanciou tanto depois que você partiu... Houve de tudo; tantas brigas, tanto rancor...
Eu mesmo trago no peito a amargura pela distância de um avô que não faz parte da minha vida mais... Nem da de niguém.
Era você a balança que equilibrava nossas emoçoes. Você sempre foi o elo, Dona Dorcas.
E de tudo que eu tenho, a maior herança foi você que me deixou! Assim como você, o espiritismo me consola e me fortifica, e esse presente que você me deu, ninguém, de forma alguma, pode me tomar. É uma herança que transcende a matéria... e me aproxima de você.
Eu só queria dizer vó, que eu tenho saudades, que eu morro de saudades todos os dias!
Queria dizer que cada vez que eu ouço seu nome, falo em você, lembro de você em momentos sem razão, eu me sinto abraçado pelo seu amor.
Cada vez que preciso de um conselho, de um abraço... Eu sinto você...
Poxa vó, você sabe o quanto eu sinto falta de um abraço dentro da minha casa; Isso me machuca tanto...
Então, pra tentar parar de chorar essa saudade, eu fico por aqui...
Mas fica por aqui também? Fica por perto? Fica comigo?
Me faz companhia que eu te sinto perto de mim... Me dá um abraço, me chama de filho e me beija na face Dona Dorcas...
E mesmo assim, eu ainda morro de saudades.
Te amo.



Matheus

3 comentários:

Renata Ribeiro disse...

OLHA, QUANTA SENSIBILIDADE! CHEGUEI A IMAGINAR A SUA AVÓ...
MUITO BELO!

Fabio Artuso disse...

No dia 14 de abril, há 14 anos, também recebi a indesejada notícia "Fabio, sua avó faleceu".
Apesar de muito criança, eu ainda me lembro do gosto intragável daquelas palavras. Fui tocado pelo que vc escreveu não só pela proximidade das datas, mas porque sei como é dizer adeus á uma guardiã.
Emocionei-me lendo seu grito de saudade. Transformar a dor em belas palavras é um dom, meu amigo. Admiro muito essa sua virtude.
Abraços

Thiago Cavalcante disse...

Chorei aqui do outro lado.


Consolo.


Paz.