18 de out. de 2009

Palavras Cuspidas


E me perguntam o porquê de escrever.
Não percebem que estas palavras são o avesso de mim?
Pode estar aqui tudo que me pertence: tripas, pulmões, minha mente...
Mas não está aqui meu coração.
A pessoa que entorna verdades em seus ouvidos não sou eu.
A pessoa que se mostra e se exibe em tais linhas, nunca fui eu.
Eu escrevo para tirar essa criatura de mim!
Eu escrevo porque ela me cansa os sentidos, e sabendo disso, insiste em se instalar cada vez mais fundo nas víceras.
Aos poucos eu me perco por dentro de sua alma, e aí as palavras saltam, a dor salta, a angústia salta.
Mas de quem é esta dor e esta angústia?
Minhas ou dela?
Quem fala e quem cala diante o papel?
Não sei.
Não sei bem se eu ainda sou eu... Não sei bem se já sou completamente ela.
Sou controverso como qualquer amador.
Ela perto de mim é gigante, é mais que profissional.
Eu gosto, enfim, de escrever.
Ela deve gostar também, porque se assim não fosse, não seríamos um.
Eu escrevo pra fugir dessa monotonia, pra sonhar e me iludir...
Ela escreve pra me trazer de volta à realidade, pra ferir e me inibir.
Eu sou emoção, ela é razão.
Ela induz a minha mágoa, e eu anseio pelos delírios que ela há de ter como eu os tenho.
Escrevemos o oposto um do outro;
Eu sou mais dela que meu e ela é mais minha do que dela.
Ambos intensos e na mesma sintonia.
No limite entre a ira e a paixão.
Porque no fim, eu e ela somos iguais;
Mesmo sendo tão diferentes.


Matheus

2 comentários:

Camille de Holanda disse...

Você certamente se provou um apreciador das obras de Clarice.
Belo texto.

Existenciofrênico disse...

Matheus

Agradeço sua resposta. E sim, citarei o trecho em questão, talvez num próximo post. E a propósito... seu texto "Dorme" me emocionou.

Obrigado.

Saulo