Acabo de assistir pela segunda vez o filme que retrata a vida de Frida Kahlo. Meu primeiro contato com essa mulher maravilhosa foi aos 12 anos pelos livros de arte que a professora Valéria levava à nossa classe. Outrora, aos 14, a obra cinematográfica me foi apresentada por um professor de um curso de Arte Contemporânea que fazia nas horas livres. Me lembro muito bem que ao sair da classe naquele dia, era como se os sons não soassem som algum, como se as cores não tivessem cor alguma... A história de Frida me tocou. Desta vez chorei, como chorei quando o vi pela primeira vez. Cada um de nós pode reconhecer em Frida um pouco de sua própria jornada.
Voe com os ventos Frida, para você escrevo algumas palavras.
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De frente à um espelho descreve de si um retrato turvo.
Suas pernas são os lençóis do leito que também poderia chamar de casa. As cabeceiras de uma cama simples, carregada de canto ao outro para que pudesse viver sem se privar de passar pelos moços, pelas calles, pelas casas, são suas amigas, assim como o gesso que a imobiliza, a barra que a atravessara, a dor de um amor que a mutilava e ao mesmo tempo a curava.
Frida homem, Frida mulher, Frida Comunista.
Vestes para noite, alegria dissimulada num sorriso, sobrancelhas juntas que lhe tornam séria, humor resignado que a torna menina.
Foi militante, camarada partidária, amante, coadjuvante e protagonista de seu próprio drama.
Viu a lua cheia no céu, mas também viveu o sabor amargo das noites de cama vazia, da traição escondida.
Uma coroa de cabelo trançado a celebra rainha de sua própria jornada.
Uma noite, duas noites, todos os dias senhora de si.
A luz fraca era como o pouco de razão que a guiava em uma viagem nos seus sentimentos.
Foi perfeita dos pés mutilados à cicatriz em suas ancas largas de mulher latina.
Metade de Frida era si mesma, a outra metade era arte.
Arte que a esvaziava, arte que a preenchia também.
Dançava, sempre livre, com quem quisesse.
Provou para todos que não temia, não aceitava, não concordava, senão com suas próprias idéias.
Vencedora de batalha interna...
Traída por sua irmã e por seu amor. Teve amores, teve Rivera como seu cúmplice, mas por si só concluiu que fora sempre amiga, nunca esposa. E mais uma vez abnegou de si para ficar ao lado de quem a fazia bem.
De tão inovadora que fora, vivia em casa diferente de seu amor, por serem pessoas diferentes. Uma ponte ligava suas moradas, essa ponte era o sentimento de Frida, essa ponte era também o seu modo de dizer que vivia por sí só.
Durante sua vida, quanto mais se afundava na lama de suas frustrações, mais a arte nascia. Quanto mais revolta sentia, mais expressão se confundia com a realidade de suas obras.
Viveu outro amor, mas a morte sempre caminhava junto à seu destino. Perder era a sina de Frida... Perdeu sua saúde, perdeu um de seus pés, perdeu suas borboletas...
Espelhos de auto retrato, corpo aberto, ossos pra fora, corpo fechado.
Pintava sem saber se era a si ou ao outro que definia nas linhas grossas que só ela sabia traçar.
Voltou a ser só, por não saber viver pra aceitar estradas que não são as suas.
Morreu guerreira, defunto falante, dor alucinante no corpo, prazer alucinante na alma.
Tequilas, tangos calientes, sexo e fogo. Prometeu pra si mesma: "Não beberei no meu velório".
Era sarcástica também esta mulher de mil faces.
Ironia se confunde com as mãos, as veias se confundem com os pincéis, e seu sangue foi sua tinta.
Quadros de dor que jorram sentimentos abafados pela família, pela angústia.
Incêndio na cama, palavras fortes, presença marcante.
Preferiu ser pó do que ser vermes. Foi cremada, e não enterrada.
O fogo que causou dor à tantas, para ela foi a libertação.
Voa livre espírito de arte, pois sua missão já acabou.
Deixe de lado Diego, Cristina, família, os tangos, a Vodka, os ossos, as gangrenas, a dor... Vá se consumir nas chamas.
Parte em paz, por fim, já que deuses ficam pouco tempo entre nós.
Ela foi livre para alçar vôo, e de acordo com seu próprio recado, nao quer mais voltar.
Frida Kahlo 1907-1954
Matheus
Um comentário:
Olá.
Eu vi esse filme faz pouco tempo. Achei muito interessante, em especial os quadros porque expressavam de uma forma única os acontecimentos da vida de Frida.
Abs
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