Greve

Tô pra fazer uma greve.

Uma greve daquelas bem fortes, onde não se pode beber nem fumar, nem ao menos falar dez palavras sem sair do esquadro.

Quero fazer uma greve em nome da vida que eu quis!

Quero reivindicar meu direito de sair das correntes sociais que aprendi a amar!

Quero fazer diferente e pensar com frieza, nadar sem rumo na maré do enjôo e da repuguinação, dando braçadas de desgosto nos políticos sujos e nas pessoas de pouca fé.

Quero fazer muito medo nas crianças de rua.

Quero que elas tenham pânico das esquinas e das pontes escuras.

Quero que corram sem rumo e sem bússola pros braços dos pais que merecem, pra lá terem o conforto que a calçada não pode lhes dar.

Eu quero que tripliquem as doenças dos mendigos, pois esse nosso povo sofrido não merece agonizar por um fim previsível.

Às vezes morrer é mais gratificante que restos de comida jogados ao chão.

Quero todas as drogas do mundo nos morros cariocas.

Dessa forma, talvez morram de overdose esses tais coronéis que prendem meu povo na jaula de suas próprias janelas. Eu quero zero escolas e zero de ação social!

Quero que meu Brasil se revolte e saia nas ruas pra manchar a camisa de sangue e suor...

Quero lutar pela pátria que sonhei desde 500 anos atrás!

Eu quero mais verde no nosso amarelo, e menos uma estrela a brilhar no nosso céu.

Quero Brasília no chão, e menos labirintos de desculpas esfarrapadas!

Quero mais de um milhão de ateus nas igrejas, negando o dízimo maldito que seca os bolsos dos pobres mais pobres que eu!

Eu tento querer ser mais forte, com força por mim e pelos outros...

Cansei de ser cobaia desgarrada, ovelha negra da família que eu chamo País.

Eu quero uma corda no pescoço dos chefes de estado, e uma guilhotina acima da nuca de todos nós!

Só se aprende na marra, meu povo!

No Brasil, a gente sabe, só se melhora à força!

E essa força somos nós!

Matheus de Castro